sábado, 6 de junho de 2015

CLICHÊS

Dormi feito uma pedra, até doer as costas e mais do que a cama. Após ressuscitar na luz da manhã, passei a falar comigo mesmo e com meus botões, pensando sobre os fatos da vida. Uma luz se acendeu em minha mente e comecei a meditar sobre o porque de usarmos tantos clichês, chavões e lugares-comuns para nos expressarmos. Chovendo no molhado e fazendo tempestade em copo d'água dei asas à imaginação e fiquei com a pulga atrás da orelha. E como a cabeça vazia é a oficina do diabo, resolvi escrever estas mal traçadas linhas porque Deus escreve certo por linhas tortas. Para não perder o fio da meada, aproveitando o gancho e sem fazer das tripas coração, resolvi tentar mostrar com quantos paus se faz uma canoa e sem querer ser maria vai com as outras e já sendo, me lembrei do meu curso de inglês e caí na real e me caiu a ficha que os povos de língua inglesa também fazem isso de usar frases feitas e clichês. Aliás, a língua deles é tão composta de clichês que eles estranham muito e muitas vezes nem compreendem o que se fala se não lançamos mão de um de seus chavões para nos expressarmos. Mesmo que se use da mais correta e cristalina gramática shakespeariana, se a frase não for o clichê apropriado para a situação, o "native" que em geral tem preguiça mental e quer ver o mundo acabar num barranco para morrer encostado, vai querer ver o circo pegar fogo e dizer que nossa sentença "sounds strange"! Tomei meu café, que de café só tem o nome, porque tomo água de coco para evitar a gastrite e dissolver as pedras dos rins, e passei a escova nos dentes e me vesti para trabalhar, dando tratos à bola do porque a gente calça a bota e bota a calça. Montei no meu pé de borracha e fui para o trabalho com um monte de gírias e expressões martelando na minha cabeça. Céu da boca, boca da noite, copo d'água, cobertor de orelha, quem não se comunica se estrumbica, quebrar o galho, dar um nó, fazer um gatilho, dar uma mãozinha, ruim de roda, Sol de rachar, papo furado, amigos do alheio, malhar em ferro frio e outras peças dignas de nota e figurinhas carimbadas de nosso português brasileiro. Mesmo correndo o risco de ganhar um toco, um vaite, as contas, de ser mandado a queimar o chão, fazer a pista, pegar o beco, a braquiara, eu insisto em encher, pelar e torrar o saco ao bater na mesma tecla e ficar igual a disco rachado ou vitrola quebrada e continuar no tema dos clichês. Neste século 21 onde nada se cria e tudo se copia, parece que a criatividade só vai se criar quando as galinhas tiverem dentes. Como dizia o velho guerreiro, eu vim para confundir e não para explicar. E como quem fala demais dá bom dia a cavalo, conversa água e miolo de pote, eu continuou aqui a falar (escrevendo, guardemos as devidas proporções) mais do que o preto do leite. E porque Deus não dá asas a cobra e quem não tem competência não se estabelece, eu continuo vasculhando minha mente à procura de chavões, ditados e clichês que possam ser concatenados produzindo alguma lógica ou mesmo ratificando o saudoso Chacrinha. Aliás, "o finado fulano" também é um chavão das antigas que também era muito usado em outros tempos. Bom acho que já enchi bastante linguiça e tomei muito do tempo de vocês, agradeço a atenção dispensada e vou me já andando pois já está passando da hora. E com a sensação de já ir tarde e já ter morrido e esquecido de cair, eu me já vou, com cacófato ou sem, lhes desejo boa noite, bom dia ou boa tarde, dependendo do adiantado da hora, agradeço penhorado e me desculpo por qualquer coisa. Fiquem com Deus e lembrem-se que cobra que não anda não engole sapo. E tenho dito!